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{o outro #6 - Natasha Tinet} "Tudo me trouxe até aqui. Então eu vou ser escritora, porque tudo deu errado, no final das contas".
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{o outro #6 - Natasha Tinet} "Tudo me trouxe até aqui. Então eu vou ser escritora, porque tudo deu errado, no final das contas".

Hey, psiu! Tá vendo esse botão “play” aí em cima? Ele é pra você que está sem tempo - ou que está com preguiça mesmo :P – de ler a confissão abaixo e conhecer nosse convidade. Apure seus ouvidos e ouça a essa conversa boa no podcast. Mas sem desculpas pra deixar esse conteúdo de lado, ok? :)


Olá você,

É chegada a sexta newsletter com e sexte convidade da categoria “o outro” da Literatura Confessional, o espaço onde torno pública a íntima jornada de escritores que se confessam também, por escrito, durante o caminho.

Acredito que pra encerrar 2020 e a primeira temporada da vertente de um projeto que nasceu, cresceu e se desenvolveu de forma tão intuitiva (ou que o universo foi me mostrando ruas, becos e muitas estradas passíveis de exploração), não poderia deixar de trazer uma pessoa que conheci de forma tão especial; a escritora e artista visual, Natasha Tinet, que vejam só, foi apresentada pela primeira pessoa que entrevistei na vida como podcadster (me sinto chic!), a também escritora e podcaster Julia Raiz.

"Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe".

Todo mundo já ouviu o trecho acima em votos de casamento, mas após editar o episódio com a Natasha, essa frase me veio à cabeça várias vezes.

Como vocês poderão saber no episódio, a Natasha sofre de algumas doenças crônicas que não afetam diretamente e somente sua saúde; ela afeta seu trabalho/profissão, sua rotina; existe um saber lidar com certas condições diariamente. Então, escrever, como ela mesma disse, foi a única forma de poder deixar seus dias menos incômodos (ainda que a escrita a acompanhe desde criança quando tudo isso nem existia) e a desenvolver algo que, digamos, fizesse sua vida dar certo — palavras dela também.

Na vida, muitas vezes nos devotamos ao casamento, aos familiares, aos exercícios físicos, a nossa carreira (que nem sempre é aquela que exprime nosso verdadeiro sentido de trabalho), mas ao ouvir da Natasha, senti que ela exprime e deposita essa devoção à escrita, seja almejando a cura, a esperança, ou até o oxigênio pros dias em que a dor fala mais alto; claro que tudo isso é contrabalanceado com doses mais do que homeopáticas de bom humor que temperam sua prosa e poesia, que a salva e nos salvam consequentemente.

Cada um de nós temos nossas devoções, de existência ou diárias. Se 2020 fez as suas aumentarem ou simplesmente sumirem, tá tudo bem. Só desejo que você em algum momento a recupere, ou crie alguma nova. Devoções nos estimulam a fazer as coisas darem certo, sem necessariamente seguir uma linha linear, pois nenhum esforço é em vão, mesmo que o resultado dessa devoção toda não seja nada do que estávamos esperando. Saber agradecer, entretanto, precisa fazer parte do ritual, sem muitos questionamentos.

Eu agradeço a Natasha por me trazer esse espírito de devoção e agradecimento pela minha vida, pela minha saúde e pelo meu trabalho de alma. E eu agradeço mais ainda a cada um de vocês que me leram/ouviram e/ou leram/ouviram meus convidades nesse 2020 de Literatura Confessional.

Que 2021 seja leve e com mais terrenos férteis para todos nós pisarmos e construírmos nossas devoções e agradecimentos.

Com devoção, gratidão e muito amor, Larissa Xavier 

A L.C. EM UM CLIQUE

Ps¹: Para continuar recebendo os emails na caixa de entrada, marque-os como “importante”, ou melhor ainda, adicione a literaturaconfessional@substack.com à sua lista de contatos!

Ps²: Gostando ou não do conteúdo, me escreva uma mensagem contando o que tem achado! Vou adorar falar mais contigo. :)


Com vocês, Natasha Tinet se confessando em:


Conversas sobre dor

já me apresentei três vezes à minha vizinha de baixo
temos assuntos em comum
conversamos essencialmente sobre dor
bacias quebradas, hérnias de disco, próteses, pinos
o risco das escadas e de cirurgias malfeitas
remédios de nossa farmácia particular
que nem sempre aliviam o sofrimento
de ser assim torta quebrada e remendada.

minha vizinha de baixo recomenda o uso de cinta 
imagino então as cintas da Frida Kahlo 
os espartilhos com faixas de tecido afivelados
o tronco de couro para sustentá-la sentada
gessos hospitalares estampados com frutas
foice e martelo, retalhos de tecido
redomas que abrigaram todas as suas dores
de cervo almejado por flechas
dores de coluna partida, de aborto, de Rivera 
Frida chora eu choro por ela eu choro por mim
enquanto mudo de posição na cama 
a lombar é uma bigorna, tenho fantasias de 
me desmontar, desencaixar o fêmur da bacia 
ser uma boneca bebê de plástico oco.

minha vizinha de baixo é meio ciborgue
tem metais espalhados pelo corpo
e uma memória de algodão doce no sol
novamente me apresento
moro no andar de cima
tenho cinco gatas, um organismo degenerado
escrevo, ela também escreve muito bem
já ganhou até prêmio, dou parabéns
e conversamos mais uma vez sobre dor.

BIOGRAFIA: Natasha Tinet é escritora, artista visual, gateira, bipolar e espondilítica. Integra a grupa Membrana literária e, junto com a poeta Julia Raiz, edita a Totem & Pagu Firrrma de poesia. Seu livro de estreia, “Veludo Violento”, recebeu o segundo lugar no Prêmio fundação biblioteca nacional 2019 na categoria poesia. Em breve, publicará a plaquete “Silêncio Bergman” (Editora Primata), e o livro de contos “As coisas que existem comigo” (Editora Medusa). 

***O livro “Veludo Violento” está disponível para compra com a Natasha mesmo. Envie uma DM pelo Instagram dela.


Obrigada por nos ler/ouvir até aqui. Eu, Larissa, te vejo ano que vem na primeira confissão de 2021 (#quesejadoce). <3

Larissa Xavier // Literatura Confessional

***Hey! Agora que acabou de ler, ou ouvir, se alguma passagem te inspirou, encaminhe esse email para alguém se inspirar também.

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Revelando a interioridade de nosso eu mais profundo através de longas e íntimas narrativas contadas em primeira pessoa; por mim, Larissa Xavier, e por quem quer que queria se confessar. Porque somente a escrita pode libertar o que a vida faz aprisionar.